Foto: https://www.poesiadefortaleza.com.br/
BENIMAR DE OLIVEIRA BARBOSA
( Ceará – Brasil )
Beni Barbosa nasceu em Fortaleza / Ceará, em 1963.
Graduado em Filosofia e especialista em Avaliação da Escola Pública.
Professor da rede pública municipal e militante da área da criança e do adolescente. Desde a adolescência, escreve romances, contos e poemas. Mas somente em 1919 resolveu investir na carreira de escritor, divulgando suas produções.
Tem participado de vários eventos ligados à literatura: II Festival de Poesias de Fortaleza, antologias DEVIRES POÉTICOS e BLOODY MARY, XXXI Festival Nacional de Poesias (Academia Rio-Pombense), Revista LITERALIVRE, participação no projeto Besouro (editora Suburbana), projeto literário Pílulas de um Novo Mundo e Feira Literária de Assis, dentre outros. É também arte colagista e procura estabelecer uma relação estética entre palavra e imagem.
NOVO DECAMERON. Antologia poética. Org. Rodrigo Starling, 2021. 235 p. ISBN 978-65-994-783-7-6-1
Ex. bibl. Antonio Miranda
GOTA SUSPENSA
Gota suspensa
propensa a cair sobre a relva
por onde os mortos passeiam.
Ela, agarra-se ao substrato
e eu, à vida.
As suas poucas moléculas
a mantém dependurada
como se fossem brincos d´água.
Ela tenta,
eu insisto.
Ela me vê
e reflete a minha alma
dentro de sua minúscula bolha.
Gota suspensa,
arfa pedindo mais tempo
e eu, choro, rogando perdão.
Aguço os sentidos
e escuto o teu grito de socorro
no momento exato que despencas
sobre os micróbios.
No lapso entre a vida e a morte
tento interceptar-te,
mas deparo-me com o inexorável
fim de tudo.
Gota suspensa.
Se tu cais,
apenas desfaz-se.
Vida minha,
se findas, morro.
A ESPERA
O relógio desenhado na parede de papel
trouxe-me de volta à realidade atormentada dos
desejos.
Eu, com a impaciência de um deus profano.
prostrei-me diante do impiedoso tempo.
Carros velozes riscavam o asfalto reluzente
confundindo-se com os cometas sem rota
que vagavam pelo céu escarlate.
Era o momento exato da real insanidade.
À mesa ilusória de uma sala contígua ao passado,
deliciei-me com vinhos bucólicos
servidos em taças de delírio.
Refresquei o meu interior que ardia
e queimava as cortinas que separavam
a razão da loucura.
Afastei livros, cadeiras e juras de amor.
Debrucei-me em janelas imaginárias pintadas por
Picasso
e, vi, de forma odiosa,
medievais famintas devorarem morangos
prematuramente amadurecidos.
Os instante dessa espera seguiram-se
vagarosamente,
embalados por uma tormenta sobre o relógio sem
ponteiros.
Recitei poemas escandinavos em línguas obscuras
até a tua imagem materializar-se.
Enfim,
nossos lábios opostos uniram-se no ímpeto de um
beijo,
enquanto nos consumíamos sem a dor da finitude.9
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